O verdadeiro quintal
12/04/12 15:51A nova “Economist” questiona os EUA, em contraposição ao Brasil e à América Latina, sob o título “O verdadeiro quintal“, o subtítulo “Uma interessante troca de posição no hemisfério ocidental” e a ilustração acima. Abrindo o longo texto:
Tudo considerado, este é um momento muito bom para ser um americano. Pense bem. A classe média está se expandindo e ficando mais rica. As desigualdades que já foram rigorosamente injustas estão diminuindo. A qualidade da governança aumentou em grande velocidade. A política está se tornando menos ideológica e mais centrista e pragmática. E nunca antes os americanos tiveram tanta influência no mundo exterior.
Oh, talvez seja necessário um esclarecimento. Este é um momento bastante bom para ser um latino-americano. Para os cidadãos dos EUA, que tendem algo atrevidamente a pensarem em si mesmos como os únicos americanos, este não é bem um bom momento. Nos EUA, na verdade, todas essas tendências estão indo na direção oposta. A classe média está sitiada, a desigualdade está crescendo, o governo está travado, a política está cada vez mais polarizada e a superpotência está numa toada em torno de seu declínio global.
Não é hora de os EUA prestarem um pouco mais de atenção às grandes mudanças que estão acontecendo no seu próprio quintal?
A revista cita pesquisa sobre as relações hemisféricas do think tank Inter-American Dialogue, com cem personalidades, metade americanas, concluindo que a ascensão da América Latina danificou os elos. Que os EUA são “cada vez menos relevantes para as necessidades” da região e mostram “capacidade declinante de propor e realizar estratégias para lidar com as questões que concernem” os latino-americanos. Cita três obstáculos centrais, a ofensiva contra os imigrantes, a guerra às drogas e o embargo a Cuba, todos resultantes da política interna, com grupos de pressão como a direita republicana e a comunidade de origem cubana na Flórida.
Diz que Washington responde às críticas perguntando, “Eles não entendem que a política interna espinhosa torna impossiveis ações sérias?”, ao que a “Economist” reage e encerra:
Eles entendem. Mas nas últimas décadas alguns dos países da América Latina enfrentarem obstáculos muitos maiores para criar coragem de ultrapassar suas próprias políticas internas impossíveis. Talvez seja hora de os EUA seguirem o exemplo, para variar.
A nova edição traz ainda a reportagem “Um passo de cada vez“, com o subtítulo “Dois gigantes americanos estão lentamente se conhecendo” e uma foto de Dilma Rousseff com Barack Obama, olhos nos olhos. Diz que, além do reconhecimento da cachaça, “os dois líderes concordaram em assuntos mais pesados”, como “a cooperação em segurança: os ministros de defesa vão se reunir regularmente, perspectiva inimaginável até poucos anos atrás”.
Mas “ainda falta muito chão”. A exemplo do “Financial Times”, a “Economist” ouve de Matias Spektor, da FGV, que só recentemente o Brasil começou a se expor “aos refletores” e ainda está mais “acostumado a ser negligenciado”. Por outro lado, diz a revista, os EUA “ainda não confiam no Brasil inteiramente”, citando a recusa em criticar Cuba e a resistência às sanções ao Irã.
De todo modo, “o governo tomou pequenos passos na direção de uma atitude mais construtiva”, na visão da correspondente. Por exemplo, “após se abster no Conselho de Segurança em relação à intervenção na Líbia, o Brasil está tentando agora desenhar novas garantias para futuras intervenções humanitárias, chamando-as de ‘responsabilidade ao proteger'”.